O Matuto


Por Wall Morari



O matuto foi criado baseado na historia de vida da minha família, o meu pai era um autentico matuto, era da roça mesmo gostava do trabalho braçal. Foi um homem que nunca se adaptou com cidade na verdade, ele se achava um matuto ele mesmo dizia: sou um matuto do mato não sei ler nem escrever nunca pisei numa escola sou mesmo um atolado, quando ia pra cidade se sentia envergonhado, simplório sem conhecimento.
Por isso eu fiz esse roteiro, ele indo pra cidade fazer as compras (linha, agulha, botões, tecidos para as roupas, enfim coisas que não dava na roça) e essas histórias e comentários sobre a ditadura, revolução, greve dos estudantes, espionagem, gente que sumia, gente que aparecia morta ele ouvia mesmo e chegava em casa contava tudo, e nos éramos crianças a gente tinha muito medo e chegava a se esconder debaixo da cama quando ouvia barulho de avião.E nunca esquecia de trazer docinhos com brinquedinhos pros filhos. A gente morava no meio do mato não sabia nem o que era cidade, energia elétrica, nem radio e era feliz a mãe e o pai era tudo pra nós. A minha mãe teve 12 gestações, por isso coloquei a mulher do matuto grávida, ela era assim mesmo um filho por ano.
Depois de muitos anos, um tio muito querido irmão do meu pai ficou muito doente e ele morava perto da divisa de SP com Mato Grosso no mesmo lugar onde meu pai ia fazer as compras em Panorama, na época ele atravessa o “Rio Paranázão” (como era chamado) a balsa. Então me deparei com uma grande surpresa, esse lugar não existe mais está embaixo d’agua, sobe uma profundidade de 15 a 20 metros, construíram uma usina hidroelétrica por lá e a barragem inundou um parte da nossa historia, da minha primeira infância. Essa ocorrência me deixou profundamente triste, fiquei com esse sentimento quando voltei pra casa resolvi escrever essa historia, que vivemos, e essa sensação que tudo aquilo não existia mais, ou seja só existia na minhas lembranças. Agora não, com a transformação dessa história em roteiro e agora num curta, passou a existir de novo para o mundo, é só.
Quando acabei de assistir o curta fiquei muito emocionada com o resultado, as interpretações dos atores simples suaves e até os problemas técnicos contribuíram favorecendo na interpretação do meu roteiro, deram vida a minha historia, e estou satisfeita e orgulhosa de ter criado esse trabalho cinematográfico, e espero contribuir muito mais e melhor nos próximos pois, esse é só o primeiro. Quero agradecer a minha família por ela existir e prestar uma singela homenagem a meu papai (in memória).
Quero agradecer o diretor J.P Miranda, produtores e principalmente o elenco de atores: CLAUDIO LOPES, JOÃO DE LIMA NETO, ALINE ARINS, PEDRO MANUEL PRIMO, ALAM, TAMIRES E ANDREZA.

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