Cinema Caipira de janeiro


A revista cinema caipira do mês de janeiro de 2010 já está disponível para encomenda. Os artigos são os seguintes:

“Primeiro Festival” de Fernanda Tosini e JP Miranda Maria
“Daisy Miller: a inocência condenada” de Linda Catarina Gualda
“O cinema brasileiro e marginal” de Rafael de Oliveira Rodrigues.
“Ator, diretor, jornalista e escritor. Ou apenas, Norman Mailer” de J. Costa Jr.
“CINEMA NOVO - movimento cinematográfico brasileiro: história e considerações” de Aurélio Hideki
“Pasolini e a transposição poética: da Literatura ao Cinema” de Fernanda Tosini
“A Balada de Narayama, de Shohei Imamura” de Vall Morari
“Pensamento das imagens” de JP Miranda Maria
“Fazer Cinema” de Fernanda Tosini
“Um cineasta do século XXI” de Adriano Corrêa Maia
“2009” de JP Miranda Maria

Segue abaixo o link da revista

http://www.4shared.com/file/183279706/4f5f345a/revista_kino_janeiro_2010.html

caso não consiga acessar copie e cole o endereço.

para montar a revista clique aqui para obter as instruções

Arrisquei alguns parágrafos e algumas definições...

Nunca foi tão difícil escrever sobre cinema. Começo este texto com a primeira frase que me vem latente enquanto procuro as palavras e enfrento a intricada tarefa de tramar frases em linhas. Procurar a palavra certa é como procurar a cena certa, cada qual com sua gramática. Escrever um texto, tarefa de poeta é formar imagens, tarefa de cineasta-poeta. Mas qualquer um pode escrever um texto e também... Qualquer um pode fazer cinema!
Agora o leitor deve ter estranhado esta afirmação, talvez voltado a ler a mesma frase e concluído finalmente que eu escrevi alguma asneira. Recapitulando, “Qualquer um pode fazer cinema!” Ora, hoje temos alta tecnologia e, o mais importante, os meios audiovisuais se democratizaram, por isso qualquer um pode ser dono de uma câmera e de um filme. Eis o problema, milhões de “cineastas” com suas “obras” postadas no Youtube. Aí surge qualquer espécie de filme que por respeito aos bons diretores de cinema não consideramos apenas apertar o play um ato profissional. Quem conhece os bastidores sabe que cinema é trabalhoso. Mas, trabalhoso como? Pois é, eu igualmente não sabia.
Apenas ouvimos falar dos números, várias casas que acrescem para formar o valor que financia os filmes. Bem, este dinheiro é utilizado para montar cenários, providenciar figurinos, contratar funcionários, etc. Várias áreas são necessárias: direção, fotografia, produção, som... Por isso consideramos Hollywood, por exemplo, uma grande empresa do cinema. Mas se eu afirmasse que só assim fosse possível produzir um filme, estaria contradizendo o que acabei de escrever no parágrafo anterior. Digamos que uma produção milionária seja apenas uma das formas de se fazer cinema. A outra, seria como o Grupo Kino-olho trabalha. A partir da experiência que tive participando do grupo em 2009, aprendi a olhar o cinema com outros olhos.
É difícil decifrar o que é o grupo kino-olho, mesmo convivendo entre oficinas, estudos e produções. Daí o meu enorme desafio de escrever este texto. É como Álvaro de Campos poetizando a Metafísica. Mas eu não sou Álvaro de Campos! Mas kino-olho é coisa que se vale, é arte. É tramar cenas, mas não entrepostas num ritmo frenético e indigesto: é contemplar. Inquietar espectador. É sonhar, mas realizar. É fazer cinema no interior: assumir identidade, cultura.
Fazer cinema com o que acontece no cotidiano num momento em que o cotidiano parece sem graça. De repente nos é revelado um outro olhar sobre a conversa de bar, sobre o feirante, o médico, o travesti, o sanfoneiro, a dona de casa, o estudante. Tantos personagens presentes na vida real, para que inventar super-heróis que voam? Nada de mocinhos e vilões, aliás, o maior personagem é o próprio homem. A vida já é o grande palco. É só olhar atento, kino-olhe!
Não é cinema de qualquer um. É cinema caipira.

Considerações sobre o 1º Festival Internacional de Cinema Independente (FIIK)

Aconteceu nos dias 26, 27, 28 e 29 de novembro o 1º Festival Internacional de Cinema Independente promovido pelo grupo Kino-olho. É a primeira vez que a cidade de Rio Claro é prestigiada com um evento que valoriza a produção cinematográfica de outros países. O propósito foi criar um intercâmbio entre as diferentes produções mundiais.
Durante o evento pudemos conferir diretores da Rússia, Estados Unidos, Inglaterra, Filipinas, Irlanda, etc. Cada qual com seu estilo, mas todos artistas independentes, assim como o grupo Kino-olho, no Brasil.
A programação foi dividida por temas, no dia 26 (O cinema e a vídeo arte), foram exibidos trabalhos de Jean P. Carpio. Destaco a performance “Clocks”, em que duas artistas trabalham os limites do corpo e da dança, Carpio apenas registra a performance. Tivemos também outros cineastas internacionais e o trabalho do grande artista Sechi (brasileiro), que tem experiência em vídeoarte há bastante tempo e cujos trabalhos sempre são interessantes, aliás para mim o destaque da noite foi ele. Também tivemos o trabalho do Lourenço, que fez uma homenagem ao cineasta rio-clarense J.P. Miranda.
O debate também foi ótimo, participaram da mesa J.P. Miranda e o artista Sechi, aproveitei este rico momento para perguntar a ambos qual é a visão deles sobre o que é arte (e o que não é) e o que define tal conceito e até que ponto o “eu - artista” é interessante na obra, questão acerca do egocentrismo do artista.
No segundo dia (O cinema de entretenimento e o educativo), contamos com o trabalho de Becca Schall e Anne Yao, representando as diretoras internacionais e os filmes de Letícia Tonon, Thiago dos Santos e do grupo Kino-olho, do Brasil. Mais uma vez ainda fico com os brasileiros, não desmerecendo os cineastas internacionais. O debate também foi bem interessante, principalmente pela polêmica que gerou o termo “entretenimento”. Inicialmente falou-se do cinema de entretenimento como algo de menor valor, ou seja, como se o termo referisse a um cinema menos engajado e mais massificado. Porém o Fábio, que participava da platéia, defendeu e valorizou o cinema deste gênero. Depois de seu admirável discurso, todos deixaram o preconceito de lado.
No terceiro dia (Um cinema caipira), pudemos ver todos os curtas do grupo kino-olho realizados em 2009. Se não estou enganada, somam 45 trabalhos. É muito material! Realmente este ano o grupo mostrou resultados e capacidade para manter uma produção de bom nível num ritmo acelerado. A sensação de ver os filmes numa tela maior foi realmente emocionante, pois estamos acostumados a ver no youtube, e a sala de cinema sempre oferece uma emoção a mais. Pudemos discutir em grupo (pois muitos integrantes estavam na platéia e puderam participar no momento do debate) o que é o “Cinema Caipira”, refletimos sobre nossas produções e estilo. Para mim foi a noite mais comovente, pois a Claudia, uma das integrantes, se emocionou ao falar demonstrando o quanto o grupo tem sido importante não só para o seu lado profissional, mas também em outros aspectos pessoais. Também fiquei emocionada porque fui convidada a participar da mesa, foi um convite inesperado e que me deixou muito feliz. Eu também falei um pouco da minha experiência com o grupo, quem sabe escrevo um outro artigo à parte falando sobre isso...
E no último dia (Propostas de cinema), assistimos aos curtas dos estrangeiros Donald Foreman, Pedro Rufino e Evgeny Morozov e dos brasileiros Lourenço Favari e grupo Kino-olho. Ressalto o diretor Donald Foreman que inclusive escolhi para falar durante a mesa. No debate, participou o diretor J.P. Miranda, Lourenço Favari e eu. J.P. Miranda falou do trabalho que desenvolve como coordenador do grupo Kino-olho esclarecendo o que é o estilo e movimento “Cinema Caipira”, além dos projetos para o ano que vem, também respondeu às questões acerca de sua visão em relação ao cinema e à própria obra. O debate foi muito interessante, pois o cineasta Lourenço tem uma visão diferente e indagou o cineasta J.P.Miranda sobre questões pertinentes, cada qual se colocou com sua postura particular (e em alguns momentos, contrárias), mas ambas importantes.
Eu apresentei melhor o trabalho do Foreman através do manifesto “The State of the art”, redigido por ele, e falei à respeito do conceito que está por trás de sua produção. Levantei alguns pontos em relação à cultura de massa, mídia, monopólio cinematográfico e sua influencia sobre cineastas experimentais. Também preparei uma surpresa para o público, produzi um curta-metragem, bem simples, e estreei como cineasta. Na verdade foi apenas uma brincadeira, pois meu interesse maior é na produção de roteiros e na revista. Mas a sensação foi ótima, é muito legal ter um filme numa tela grande e assistido por várias pessoas.
A experiência de ter um Festival em Rio Claro (cidade onde moro) é indescritível, espero que as pessoas se conscientizem e valorizem o que aconteceu nesses últimos dias e que o Festival vire tradição aqui. O intercâmbio cultural é raro, principalmente quando falamos em produções independentes, que não estão nos grandes meios.