Arrisquei alguns parágrafos e algumas definições...

Nunca foi tão difícil escrever sobre cinema. Começo este texto com a primeira frase que me vem latente enquanto procuro as palavras e enfrento a intricada tarefa de tramar frases em linhas. Procurar a palavra certa é como procurar a cena certa, cada qual com sua gramática. Escrever um texto, tarefa de poeta é formar imagens, tarefa de cineasta-poeta. Mas qualquer um pode escrever um texto e também... Qualquer um pode fazer cinema!
Agora o leitor deve ter estranhado esta afirmação, talvez voltado a ler a mesma frase e concluído finalmente que eu escrevi alguma asneira. Recapitulando, “Qualquer um pode fazer cinema!” Ora, hoje temos alta tecnologia e, o mais importante, os meios audiovisuais se democratizaram, por isso qualquer um pode ser dono de uma câmera e de um filme. Eis o problema, milhões de “cineastas” com suas “obras” postadas no Youtube. Aí surge qualquer espécie de filme que por respeito aos bons diretores de cinema não consideramos apenas apertar o play um ato profissional. Quem conhece os bastidores sabe que cinema é trabalhoso. Mas, trabalhoso como? Pois é, eu igualmente não sabia.
Apenas ouvimos falar dos números, várias casas que acrescem para formar o valor que financia os filmes. Bem, este dinheiro é utilizado para montar cenários, providenciar figurinos, contratar funcionários, etc. Várias áreas são necessárias: direção, fotografia, produção, som... Por isso consideramos Hollywood, por exemplo, uma grande empresa do cinema. Mas se eu afirmasse que só assim fosse possível produzir um filme, estaria contradizendo o que acabei de escrever no parágrafo anterior. Digamos que uma produção milionária seja apenas uma das formas de se fazer cinema. A outra, seria como o Grupo Kino-olho trabalha. A partir da experiência que tive participando do grupo em 2009, aprendi a olhar o cinema com outros olhos.
É difícil decifrar o que é o grupo kino-olho, mesmo convivendo entre oficinas, estudos e produções. Daí o meu enorme desafio de escrever este texto. É como Álvaro de Campos poetizando a Metafísica. Mas eu não sou Álvaro de Campos! Mas kino-olho é coisa que se vale, é arte. É tramar cenas, mas não entrepostas num ritmo frenético e indigesto: é contemplar. Inquietar espectador. É sonhar, mas realizar. É fazer cinema no interior: assumir identidade, cultura.
Fazer cinema com o que acontece no cotidiano num momento em que o cotidiano parece sem graça. De repente nos é revelado um outro olhar sobre a conversa de bar, sobre o feirante, o médico, o travesti, o sanfoneiro, a dona de casa, o estudante. Tantos personagens presentes na vida real, para que inventar super-heróis que voam? Nada de mocinhos e vilões, aliás, o maior personagem é o próprio homem. A vida já é o grande palco. É só olhar atento, kino-olhe!
Não é cinema de qualquer um. É cinema caipira.

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