Considerações sobre o 1º Festival Internacional de Cinema Independente (FIIK)

Aconteceu nos dias 26, 27, 28 e 29 de novembro o 1º Festival Internacional de Cinema Independente promovido pelo grupo Kino-olho. É a primeira vez que a cidade de Rio Claro é prestigiada com um evento que valoriza a produção cinematográfica de outros países. O propósito foi criar um intercâmbio entre as diferentes produções mundiais.
Durante o evento pudemos conferir diretores da Rússia, Estados Unidos, Inglaterra, Filipinas, Irlanda, etc. Cada qual com seu estilo, mas todos artistas independentes, assim como o grupo Kino-olho, no Brasil.
A programação foi dividida por temas, no dia 26 (O cinema e a vídeo arte), foram exibidos trabalhos de Jean P. Carpio. Destaco a performance “Clocks”, em que duas artistas trabalham os limites do corpo e da dança, Carpio apenas registra a performance. Tivemos também outros cineastas internacionais e o trabalho do grande artista Sechi (brasileiro), que tem experiência em vídeoarte há bastante tempo e cujos trabalhos sempre são interessantes, aliás para mim o destaque da noite foi ele. Também tivemos o trabalho do Lourenço, que fez uma homenagem ao cineasta rio-clarense J.P. Miranda.
O debate também foi ótimo, participaram da mesa J.P. Miranda e o artista Sechi, aproveitei este rico momento para perguntar a ambos qual é a visão deles sobre o que é arte (e o que não é) e o que define tal conceito e até que ponto o “eu - artista” é interessante na obra, questão acerca do egocentrismo do artista.
No segundo dia (O cinema de entretenimento e o educativo), contamos com o trabalho de Becca Schall e Anne Yao, representando as diretoras internacionais e os filmes de Letícia Tonon, Thiago dos Santos e do grupo Kino-olho, do Brasil. Mais uma vez ainda fico com os brasileiros, não desmerecendo os cineastas internacionais. O debate também foi bem interessante, principalmente pela polêmica que gerou o termo “entretenimento”. Inicialmente falou-se do cinema de entretenimento como algo de menor valor, ou seja, como se o termo referisse a um cinema menos engajado e mais massificado. Porém o Fábio, que participava da platéia, defendeu e valorizou o cinema deste gênero. Depois de seu admirável discurso, todos deixaram o preconceito de lado.
No terceiro dia (Um cinema caipira), pudemos ver todos os curtas do grupo kino-olho realizados em 2009. Se não estou enganada, somam 45 trabalhos. É muito material! Realmente este ano o grupo mostrou resultados e capacidade para manter uma produção de bom nível num ritmo acelerado. A sensação de ver os filmes numa tela maior foi realmente emocionante, pois estamos acostumados a ver no youtube, e a sala de cinema sempre oferece uma emoção a mais. Pudemos discutir em grupo (pois muitos integrantes estavam na platéia e puderam participar no momento do debate) o que é o “Cinema Caipira”, refletimos sobre nossas produções e estilo. Para mim foi a noite mais comovente, pois a Claudia, uma das integrantes, se emocionou ao falar demonstrando o quanto o grupo tem sido importante não só para o seu lado profissional, mas também em outros aspectos pessoais. Também fiquei emocionada porque fui convidada a participar da mesa, foi um convite inesperado e que me deixou muito feliz. Eu também falei um pouco da minha experiência com o grupo, quem sabe escrevo um outro artigo à parte falando sobre isso...
E no último dia (Propostas de cinema), assistimos aos curtas dos estrangeiros Donald Foreman, Pedro Rufino e Evgeny Morozov e dos brasileiros Lourenço Favari e grupo Kino-olho. Ressalto o diretor Donald Foreman que inclusive escolhi para falar durante a mesa. No debate, participou o diretor J.P. Miranda, Lourenço Favari e eu. J.P. Miranda falou do trabalho que desenvolve como coordenador do grupo Kino-olho esclarecendo o que é o estilo e movimento “Cinema Caipira”, além dos projetos para o ano que vem, também respondeu às questões acerca de sua visão em relação ao cinema e à própria obra. O debate foi muito interessante, pois o cineasta Lourenço tem uma visão diferente e indagou o cineasta J.P.Miranda sobre questões pertinentes, cada qual se colocou com sua postura particular (e em alguns momentos, contrárias), mas ambas importantes.
Eu apresentei melhor o trabalho do Foreman através do manifesto “The State of the art”, redigido por ele, e falei à respeito do conceito que está por trás de sua produção. Levantei alguns pontos em relação à cultura de massa, mídia, monopólio cinematográfico e sua influencia sobre cineastas experimentais. Também preparei uma surpresa para o público, produzi um curta-metragem, bem simples, e estreei como cineasta. Na verdade foi apenas uma brincadeira, pois meu interesse maior é na produção de roteiros e na revista. Mas a sensação foi ótima, é muito legal ter um filme numa tela grande e assistido por várias pessoas.
A experiência de ter um Festival em Rio Claro (cidade onde moro) é indescritível, espero que as pessoas se conscientizem e valorizem o que aconteceu nesses últimos dias e que o Festival vire tradição aqui. O intercâmbio cultural é raro, principalmente quando falamos em produções independentes, que não estão nos grandes meios.

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