O Grupo Kino-Olho ministra oficinas em bairros e escolas desde 2006, passando por várias experiências e muitas histórias para contar. Não foi diferente ao levar mais duas Oficinas Introdutórias de Video para os alunos da Escola Municipal Armando Grisi. A cineasta e integrante do Grupo, Cláudia Seneme do Canto, é a atual responsável pelas oficinas introdutórias e busca a partir de experiências o seu próprio modo de trabalhar com estes alunos.
Cada Oficina é diferente da outra, principalmente na idade, trabalhando com crianças de 8 anos (em turmas escolares) até senhores de 70 anos (em grupos de terceira idade). Há sempre a flexibilidade para identificar cada perfil e focar sobre suas necessidades para melhor usar as ferramentas do audiovisual. Basicamente os alunos, logo após terem as noções mínimas de produção, entram de cabeça em sua própria realidade, explorando situações corriqueiras que mereçam um olhar artístico.
Os alunos podem contar a história de seu bairro, focar numa campanha contra a poluição na cidade, ou mesmo contar seus sonhos, etc. Nada é impossível se temos a criatividade aliada com as possibilidades mínimas de produção. Em uma destas oficinas, os alunos, inspirados no filme hollywoodiano "As Aventuras de Pi", queriam a qualquer custo viabilizar uma história onde uma família sofre um naufrágio em alto mar.
Longe de querer imitar, a Cláudia, junto às professoras da Escola tiveram a idéia de construir um navio e o mar. Alunos e professoras se empenharam a criar um navio através de colagens de jornais e revistas, assim como um mar constituído por lençois e tecidos azuis. Tudo feito de forma minimalista, pois depois de muitas experiências, vêmos que precisa de muito pouco para os alunos acreditarem e sonharem por alguns minutos.
Na segunda turma, o foco esteve num fato ocorrido na realidade; quando encontraram uma cobra em um dos terrenos pertecentes a escola. Este fato serviu de inspiração para no vídeo criar uma situação imaginária em que um dos alunos fora mordido pela cobra. Assim os amigos procuram socorro e criam uma campanha para diminuir os lixos despejados no terreno da escola, atraindo animais peçonhentos. Neste caminho criamos uma forma deles pensarem sobre problemas reais e fazerem propostas para resolvé-los.
A professora Cláudia, frente à esta criatividade, faz de tudo para auxiliá-los e atingir um produto final, digno de estreia. Nesta metodologia de ensino/aprendizagem também surge a discussão se precisaria ou não de um produto bem acabado, podendo ser chamado de "mais profissional". Assistindo aos vídeos e o próprio processo das aulas, a resposta surge de imediato que o caminho não é da "profissionalização" ou da " técnica".
As oficinas pelo próprio nome diz são introdutórias para mostrá-los as possibilidade deste mundo do Cinema. Após esta experiência, os interessados são convidados a frequentarem o curso permanente no Centro Cultural, tendo uma outra profundidade de estudo. No final destas oficinas, a Cláudia recebeu cartas e um desenho dos alunos que tinha uma câmera encontrando a televisão...
As oficinas e o curso de cinema são apoiados pela Secretaria da Cultura e Prefeitura Municipal de Rio Claro. Abaixo compartilho o texto na íntegra escrito por Cláudia Seneme do Canto, relatando suas experiências e as fotos da produção.
Link do vídeo "O naufrágio" http://youtu.be/H9f4xc_y3GU
Link do vídeo "Uma visita inesperada" http://youtu.be/CW-ICnvBsxE
"O que vale mais: produzir um filme com os alunos ou produzir um filme para os alunos? Este é o desafio que tenho enfrentado nas oficinas que ministro nas escolas de Rio Claro no Projeto Oficina Introdutória do Grupo de Pesquisa e Prática Cinematográfica Kino-Olho. Nos dois primeiros encontros explico aos alunos as funções básicas dos profissionais do cinema e depois começamos a pensar na elaboração do roteiro. No jogo entre uma sugestão e outra da professora e as idéias dos alunos, sempre vence alguma história mirabolante deles. E a professora responde animada, mas com um pouco de receio do desafio da gravação: "o filme é de vocês!". E assim as coisas vão acontecendo, como ocorreu nesta última produção da 4ª série do Armando Grisi, dois alunos realizaram o roteiro, a aluna Isabela pensou na história em que cinco crianças realizam um passeio no zoológico e o aluno Pedro pensou em um enredo em que uma família enfrentava um naufrágio. Duas histórias que precisariam de uma grande produção, mas não tinha como escapar, desta vez não tinha nenhum outro aluno com um roteiro mais simples para realizar. A sala escolheu a história de Pedro e a professora sugeriu conversar com o professor de artes para junto com a sala fazerem um barco de papelão.
Dia da gravação, o barco pronto e os alunos inspirados correndo de um lado para o outro querendo segurar a câmera, passar na frente dela dando um "tchau", mexer na claquete e etc… a professora com um desafio, fazer o filme do naufrágio de um barco no palco de uma escola sair do papel! Aí voltou a questão: como fazer esta experiência maluca de se fazer um filme nestas condições ser uma experiência para eles e não algo que eu fizesse acontecer sozinha usando-os como robôs para conseguir concluir o meu trabalho, suspirar e dizer no final, missão cumprida?!
Com muita calma e equilíbrio, igual ao navio em um mar de edredões, comecei a distribuir novamente as tarefas em meio a um caos de "eu quero fazer claquete, aí, mas ele já fez isso duas vezes agora é minha vez, professora deixa eu atuar?". Não adiantava querer fazer algo artístico e muito elaborado, o importante era o caminho meu e deles na busca de fazê-los descobrir uma nova forma de expressão, no sentido mais superficial da palavra, fazê-los matar a curiosidade de mexer em uma câmera, bater uma claquete, apertar os botões, perceber o que era um plano detalhe, um plano geral, ou seja, brincar um pouco com aquelas novas ferramentas! E isso é muita coisa para quando se é criança!
Após duas horas de filmagem e uma parte do roteiro excluída por já termos excedido o tempo, comecei a simplificar toda a gravação e fazer rodízio com os alunos que ficavam atrás da câmera e pedir para os que já tivessem filmado, voltarem para a sala evitando mais confusão. No final da gravação fizemos alguns offs para preencher as partes que tínhamos cortado do roteiro e assim foi.
Editei o material em casa e passei o filme para a sala após uma semana da gravação, alguns dos comentários dos alunos eu guardei:
"Nossa, o filme ficou muito curto", "que música triste", "eu não gostei do filme professora", "eu achei que ficou bom", "vamos ver só mais uma vez", "a gente vai fazer mais filme", "vamos fazer um de uma hora", "quando você volta professora?". Além dessas falas, recebi duas cartas de duas alunas, uma com um desenho de uma câmera com pernas encontrando uma televisão e outra em nome de toda a sala em agradecimento."
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