A influência da Nouvelle Vague no cinema do interior paulista


Após pesquisar sobre a Nouvelle Vague, percebo uma série de semelhanças (quer seja por coincidência ou influencia – aliás, aposto mais na segunda hipótese) entre esta onda que eclodiu na década de 60 e o movimento de estudo e prática cinematográfica Kino-olho. A Nouvelle Vague repercutiu mundialmente: no “cinema free” na Inglaterra, no cinema “Underground” em Nova York, o “Novo Cinema” alemão e, no Brasil, o “Cinema Novo” – acrescento ainda o recente “Cinema Caipira”, que, de certa forma também foi atingido pelo movimento de vanguarda (aponto adiante esses reflexos). Devemos considerar que o cinema contemporâneo não surgiu por si só, há por trás de sua formação toda uma história cinematográfica, a qual inclui (com considerável interferência) a Nouvelle Vague.
Assim como no movimento de vanguarda, o grupo kino-olho se reúne para discutir cinema e produzir com maior consciência a partir dessas discussões, além de se dedicar a observação e análise da história cinematográfica identificando os maiores fatos e cineastas que de certa forma, influenciaram o cinema e mudaram sua concepção. Além de nos dedicarmos ao estudo da trajetória do cinema, também existe a preocupação com o domínio da técnica a fim de colocá-la ao nosso benefício na produção cinematográfica desde os chamados filmes-ensaios.
A partir da Nouvelle Vague, os novos diretores inauguraram um cinema autoral, assim podemos observar a mesma ocorrência com o grupo kino-olho, que busca se firmar como uma vertente própria (Cinema Caipira), como um cinema único a partir da crítica do próprio trabalho para seu amadurecimento e da análise de outras importantes tendências do cinema mundial.
Além de a reflexão fazer parte do processo produtivo, temos também como semelhança a produção de uma revista de crítica cinematográfica. Na época da Nouvelle Vague, os cinéfilos expressavam sua opinião através da Cahiers Du Cinèma, onde foram publicados artigos de merecida importância por nomes como François Truffaut e Claude Chabrol. O grupo kino-olho também publica desde março de 2009 uma revista de artigos cinematográficos. A revista “Cinema Caipira”, como forma de democratizar o cinema, recebe artigos de pessoas interessadas em anunciar sua opinião, quer seja membro do grupo ou não, quer seja sobre o grupo ou não.
Temos ainda outra relação entre Nouvelle Vague e kino-olho, trata-se da produção de baixo custo, afinal, na mudança do cinema clássico para a nova onda, os novos cineastas não tinham reconhecimento profissional como os anteriores, portanto os produtores não confiavam a eles um investimento alto, assim eram obrigados a trabalhar com poucos recursos e a partir de cenários naturais exploravam as melhores possibilidades.
Também não dispomos de estúdios montados especificamente para as gravações, por isso o grupo têm que adaptar o espaço do centro cultural Roberto Palmari (onde ocorrem as reuniões) de acordo com a necessidade do trabalho a ser desenvolvido. O equipamento também é escasso, empenhamos os nossos esforços para adequá-lo às filmagens. Com poucos recursos financeiros é preciso ter criatividade para adequar o que temos disponível as necessidades de produção de um filme.
O grupo kino-olho se reúne semanalmente para a produção de curtas-metragens, como exercício prático e efetivação do estudo teórico. Nesses encontros o grupo conta com a colaboração de atores e pessoas interessadas em aprender métodos de gravação, essas mesmas pessoas acabam formando a equipe de produção. Embora não haja uma equipe grande, tentamos suprir com dedicação e interesse todas as funções necessárias para a produção dos filmes. O que também acaba ocorrendo com longas-metragens, em que geralmente há pouco (ou nenhum) incentivo financeiro, dependendo mais do desempenho dos colaboradores e muito do entusiasmo do próprio diretor João Paulo Miranda.
Embora haja várias afinidades entre Nouvelle Vague e kino-olho (na verdade a ideia de compará-los surgiu a partir de uma descoberta enquanto estudava a Nouvelle Vague, não sei até onde essas comparações são de fato reais, entretanto há sentido nessas relações - para mim ultrapassam a simples ideia de achar que não passa de um acaso), devemos reconhecer e talvez com maior crédito, as suas diferenças. Existe o respeito pela Nouvelle Vague, por tudo que ela representou na época e na história do cinema, e o quanto ela influencia as produções atuais e os diretores contemporâneos.
Mas é verdade que o cinema sofreu mudanças, assim como a passagem do clássico para a Nouvelle Vague, temos hoje em dia uma produção muito diferente do que ocorreu em 60. Existe o aperfeiçoamento adquirido através de uma maior conscientização e domínio da técnica, até a produção de uma arte mais conceitual. Sobre a abordagem do tema, enquanto a Nouvelle Vague ditava o cinema, as produções eram sempre voltadas a questionamentos sociais, colocava-se em cheque o comportamento da sociedade de uma forma radical, era preciso mostrar novas atitudes de jovens que enfrentavam hábitos tradicionais.
Hoje, é óbvio que todo o contexto social mudou, então não há mais a necessidade de radicalizar, também porque vivemos numa sociedade do livre-arbítrio em que tudo é permitido, portanto, mostrar atitudes radicais não provoca mais o espectador.
Ainda sobre o kino-olho, o grupo tem outras intenções próprias, como a valorização cultural, a democratização do cinema, a ambição de profissionalizar jovens, dentre outras aspirações que criam sua personalidade independente. Não que se negue a provar do que já existe, mas a questionar antes de aceitar. Após toda essa comparação, concluo que o importante mesmo é perceber as diferenças, o que particularmente se sobressai em cada movimento.

Um comentário:

  1. gostei das informações... e dos videos... e de toda a iniciativa e da ideologia do grupo. parabéns!

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