Odes de Reis, novo filme do cineasta J.P. Miranda


Estréia prevista para Agosto, novo filme do cineasta João Paulo Miranda relê Ricardo Reis e transcreve em imagens suas características resguardando a construção estilística particular do poeta. O longa faz parte do projeto do diretor, que pretende até o fim do ano finalizar a trilogia Fernando Pessoa, tendo já lançado o "o Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro.
Na Literatura, encontramos na obra de Ricardo Reis a influência do classicismo erudito que se reflete numa linguagem clara, sintética, gramaticalmente correta e nobre e a estrutura de ode que relembra sua origem na composição poética da Grécia Antiga, em estrofes semelhantes entre si e geralmente de quatro versos e a forma complexa e variável do poema lírico, marcado pelo tom elevado e sublime com que trata determinado assunto.
Se deixa influenciar pelo Horacianismo (termo que se refere ao poeta e pensador latino Horácio) exaltando a expressão carpe diem (colha o dia ou aproveite o momento) e aurea mediocritas que expressa a ideia de que só é feliz e vive tranquilamente quem se contenta com pouco ou com aquilo que tem sem aspirar a mais, daí uma das marcas da proximidade com Alberto Caeiro (outro heterônimo de Fernando Pessoa) e um dos motivos de ser considerado seu discípulo.
Mas diferente de Caeiro, Ricardo Reis não é poeta exclusivamente do campo, sua formação intelectualizada justifica a sua escrita ilustre organizada em estrofes regulares e uso predominante de versos decassílabos e brancos e figuras de linguagem (principalmente metáforas, eufemismos e construção sonora através do emprego da assonância e aliteração), portanto seu estilo torna-se denso e construído com muito rigor.
Outra influência presente na escrita de Ricardo Reis é o filósofo Epicuro de Samos, dentre os traços reconhecidos dessa influência, verificamos a força de uma vida de contínuo prazer como caminho para a felicidade, a presença do prazer vista como sinônimo de ausência de dor, o sossego necessário para uma vida feliz e aprazível, na qual os temores perante o destino, os deuses ou a morte estão definitivamente eliminados.
Sobre o filme, identificamos a partir do trailler (que pode ser visto neste blog ou no site www.youtube.com/jpmiranda82) o classicismo erudito mostrado através de imagens que recorrem à exposição mitológica (crença e culto aos deuses e na presença divina, influencia Greco-latina), a visão intelectiva sobre a realidade no saber contemplar, a interferência da angústia e tristeza e o excesso de passividade.
Mas parece que a característica evidentemente exposta no filme revela o contraste entre erudito e moderno composto nas imagens, que não serve apenas para interpretar Ricardo Reis sob uma perspectiva contemporânea, mais que isso, é uma visão privada do cineasta, que com razão, associa o poeta monárquico à filosofia e intelectualidade. Não há outro meio de inserir Ricardo Reis se não ora na cidade, ora no campo, pois sua formação permite essa flexibilidade. Do mais, o que podemos esperar do filme é a poesia das imagens assim como fez Ricardo Reis a poesia da escrita.
Recursos técnicos, influencias metodológicas e traço estilístico não arrisco comentar, melhor ver o filme primeiro.

Fernanda Tosini
(02/08/2009)

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