Uma síntese sobre a Nouvelle Vague
Há, na trajetória do cinema, momentos culminantes que marcaram sua história, entre esses períodos extraordinários destaco a manifestação da Nouvelle Vague na década de 60. Tamanha é a importância deste movimento, que podemos considerá-lo um marco no cinema, pontuando uma cinematografia antes e depois de seu sucesso.
A geração de autores pertencentes a onda Nouvelle Vague procedem de um ambiente de cinematecas e cineclubes, na destreza da crítica e na constante reflexão sobre a arte fílmica. Daí o meio propício para se construir uma nova forma de fazer cinema, com uma estética mais apurada precedente do estudo teórico posto em prática. Nesta fase o cinema passa a ser questionado e pensado, o que dá margem a novas criações muito mais elaboradas e particulares a partir de diretores, sobretudo cinéfilos.
Também é característica marcante deste fenômeno a busca por temas contemporâneos acondicionados a questões comportamentais, visto que a época de eclosão do movimento era favorável para a criação de um cinema de discussão dos costumes e caráter da sociedade burguesa.
Além da busca pela inovação do tema, esta geração procurava novos conceitos de produção, como o uso da câmera na mão, a iluminação natural em cenários e paisagens já existentes (estúdio em desuso), ou seja, acima de tudo a preferência por métodos mais livres (mas não menos complexos) que negavam o arcadismo do clássico. A Nouvelle Vague, por esse aspecto, pode ser definida como a estética de necessidade.
Os diretores da onda aspiravam por um cinema de autor, definido pelo crítico e cineasta Alexandre Astruc como a teoria da “caméra-stylo”, que vislumbrava um modo autoral de criação, como se a câmera fosse uma espécie de pincel. Logo, para ser um autor pertencente a Nouvelle Vague, era essencialmente necessário ter um espírito inovador consolidado na vontade de reformar o cinema tradicional, negando de certa forma, o padrão determinado pelo clássico.
Grande parte dos cineastas deste período expressava suas ideias através da revista Cahiers Du Cinema, destinada a novos pensadores e críticos. Foi através da Cahiers que François Truffaut publicou o artigo "Politique des auteurs", considerado o regulamento do manifesto Nouvelle Vague. Outros autores revelaram sua opinião na revista: Claude Chabrol, Jean-Luc Godard, François Truffaut, Eric Rohmer e Jacques Rivette, são alguns deles.
Já que a Nouvelle Vague foi instituída por novos diretores inicialmente sem reconhecimento profissional, conseqüentemente sem maiores possibilidades de produzir filmes com alto custo, os produtores preferiam não arriscar investindo em nomes desconhecidos e audaciosos.
Podemos supor que foi também por conta de todas essas dificuldades que os novos autores da sétima arte souberam de fato fazer cinema cujo conteúdo transcende apenas o bom gosto, explorando através do que era considerado inconcebível, a aparente simplicidade de produção que revela o complexo engenho de um filme autoral, crítico e inovador, como a época pedia.
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